
Em novembro, mês marcado pelo Dia da Consciência Negra, dentre as diversas pautas discutidas, fala-se muito sobre a fragilidade das corporações quando o assunto é diversidade racial. Para além do apontamento ao racismo estrutural, sabidamente enraizado nas estruturas econômicas e de poder brasileiras, cabe, também, o esforço de entender a realidade das pessoas negras ao redor do país, que compõem a maior parte da população, e pensar em maneiras de incluí-las, de forma mais assertiva e positiva no mercado de trabalho.
Sabe-se, por exemplo, que o inglês é o idioma mundial dos negócios, da cultura e das ciências – e a língua mais falada do mundo – e se torna, cada vez mais, critério determinante para qualquer contratação. Assim, pode-se inferir que, uma vez democratizado o acesso ao idioma, maiores são as chances de inserção e permanência de pessoas negras nesses espaços.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a população negra é a mais afetada pela desigualdade e pela violência no Brasil. No mercado de trabalho, pretos e pardos enfrentam mais dificuldades na progressão da carreira, na igualdade salarial e são mais vulneráveis ao assédio moral. Ainda, segundo o Atlas da Violência (2017), a população negra também corresponde a maioria (78,9%) dos um em cada dez indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios.
A crise econômica também atingiu com mais força a população negra brasileira: eles são 63,7% dos desocupados, o que corresponde a 8,3 milhões de pessoas. Com isso, a taxa de desocupação de pretos e pardos ficou em 14,6% – entre os trabalhadores brancos, o índice é menor: 9,9%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ademais, no terceiro trimestre de 2017, o rendimento médio de trabalhadores negros foi inferior ao dos brancos: 1,5 mil ante 2,7 mil reais. Ainda segundo o IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos, sendo que a cada dez pessoas, três são mulheres negras. Sendo assim, torna-se cada vez mais urgente propiciar ferramentas para o desenvolvimento profissional da juventude afro-brasileira. Para tal, é pertinente assumir que o aprendizado em inglês poderá representar um diferencial competitivo na busca por melhores oportunidades profissionais , bem como acesso a oportunidades de estudos no exterior.
A maior parte da população brasileira se define como negro ou pardo, entretanto eles estão longe de serem a maioria no mercado de trabalho altamente qualificado, também porque muitos não têm acesso à formação educacional exigida. Os movimentos em busca de maior representatividade para minorias étnicas no Brasil vêm obtendo conquistas em vários campos da sociedade, contudo, ainda é necessário e relevante o esforço para garantir o direito à educação de qualidade a todos. A baixa presença de profissionais qualificados negros é reflexo do acesso desigual à educação formal e do histórico de discriminação racial inerente à sociedade brasileira, o que infere que a população negra (mormente mulheres) apresente condições de vida inferiores às da população branca no que se refere a quase todos os direitos sociais: educação, saúde, trabalho, moradia, entre outros.
Tendo em vista essa necessidade de formação complementar da população negra como forma de torná-la mais competitiva, cabe citar que, de acordo com a 52ª Pesquisa Salarial, realizada pela Catho, o salário de uma pessoa que tem fluência em um segundo idioma é até 61% maior em relação ao salário de um monolíngue. Outro dado relevante é referente ao projeto E2C (English to Connect, Communicate, Catalyze), realizado pelo Consulado Geral dos EUA em SP e pelo Grupo +Unidos. O projeto tem como premissa a capacitação de jovens negros e negras no idioma de língua inglesa e, após a conclusão da primeira turma, em 2019, identificou-se que 50% dos alunos conseguiram um emprego ou foram promovidos. Em todos os casos, os alunos alegaram que o inglês teve influência nisso.
Para superar as desigualdades estruturais e valorizar a multiplicidade étnica do Brasil, é necessário ir mais adiante, tanto no aprimoramento de políticas públicas em todas as frentes quanto no fortalecimento de iniciativas da própria sociedade civil. Por fim, unicamente quando mulheres e homens negros puderem desempenhar o direito básico de participar das decisões políticas, sociais e econômicas, ou seja, o direito de participar de forma digna e incondicional de instituições públicas ou privadas, haverá condições de afirmar que convivemos em uma sociedade diversa e genuinamente democrática.
LUMA CAVALCANTI
Analista de Comunicação
Grupo +Unidos