
Os desdobramentos da crise causada pelo Coronavírus no Brasil foram muitos, seja em termos educacionais, de saúde, econômicos ou socioambientais. Quando o olhar é específico para o empreendedorismo, o que se identifica é que o impacto nos pequenos negócios causado pela Covid-19 é maior para mulheres do que para homens. Ainda que as empreendedoras tenham conquistado cada vez mais espaço no setor, são muitos os desafios que elas encontram para empreender, mesmo antes da pandemia.
Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae, no Brasil, existem 9,3 milhões de mulheres empresárias. Tal número representa 34% do total do empresariado do país, colocando o Brasil em 7º lugar no mundo em termos de empreendedorismo feminino. Entretanto, de acordo com o Relatório Global de Desigualdade de Gênero, do Fórum Econômico Mundial (WEF), em 2020, o Brasil foi somente o 92° colocado dentre 153 países analisados, na média de paridade de gêneros. O estudo é realizado anualmente desde 2006 e são levados em conta parâmetros de Educação, Saúde, Trabalho e Empoderamento Político, o que escancara a disparidade social e econômica entre os gêneros.
Desse total, aproximadamente, 70% têm filhos e cerca de 45% são as únicas provedoras em suas casas, enfatizando os dados de uma outra pesquisa, feita também pelo Sebrae, que mostra que a maioria das mulheres tornou-se empreendedora por necessidade, para buscar independência e até escapar de condições de abusos e de violência.
Para contribuir com a compreensão do perfil dessas empresárias, a Rede Mulher Empreendedora (RME) realizou um estudo com 1.376 mulheres de diferentes regiões. De acordo com esta pesquisa, 75% delas decidiram abrir seu negócio após o parto, para permitir horários flexíveis, evidenciando como as temáticas próprias do gênero podem influenciar diretamente nas decisões da vida profissional.
Uma pesquisa desenvolvida por Daise Rosas Natividade aponta que, mesmo as mulheres com mais anos de estudo, ainda se encontram na base da pirâmide social, tanto em termos de recursos financeiros quanto de oportunidades de crescimento profissional. Abrir o próprio negócio, nesse contexto, pode ser visto como uma alternativa de sobrevivência para as mulheres, considerando também a crescente participação em seus lares como principal provedora.
Não obstante, além de todos os desafios que as mulheres enfrentam no processo de se tornarem empresárias, conforme mencionado acima, o impacto nas Pequenas e Médias Empresas (PMEs) causado pela pandemia é ainda pior para elas do que para os homens. Segundo a pesquisa “O Impacto da pandemia do Coronavírus nas pequenas empresas”, feita pelo Sebrae, isso ocorre, entre outros motivos, porque as mulheres costumam trabalhar em setores de maior contato humano, como vendas, hotelaria e turismo, justamente os mais afetados pela crise.
Existe, também, uma questão estrutural e econômica, que se expressa pela maior dificuldade que as mulheres encontram em conseguir créditos para suas empresas. Um estudo realizado pelo Serasa Experian revela que “tal fenômeno pode estar associado a condições como preconceito de gênero, menor credibilidade pelo fato do mundo dos negócios ser tradicionalmente associado a homens”. Para além disso, é importante levar em consideração a dupla – e até tripla – jornada que as mulheres enfrentam, já que possuem 2,7 horas a mais de horas diárias dedicadas às atividades do lar do que os homens.
Diante dessa vasta participação feminina no setor, é razoável apontar que esse grupo social tem muito a acrescentar em termos de experiência, além de contribuir para a economia do país. Acredita-se, assim, que estimular uma onda de profissionalização e um ecossistema a nível nacional de empresárias seria extremamente benéfico. Tal movimento geraria, também, um senso de empoderamento e pertencimento entre a classe, permitindo que essas mulheres sejam autoras e protagonistas de suas carreiras profissionais. Assim como de suas vidas.
Sacha Senger
Gerente de Projetos
Grupo +Unidos